"Enquanto
outros choram, eu vendo lenço." A frase, atribuída a um anúncio do
publicitário Nizan Guanaes, foi veiculada no início da década de 1990,
mas se aplica muito bem ao cenário em que vivemos. Na época, o então
presidente Fernando Collor havia congelado o dinheiro da poupança de
todos os brasileiros, mergulhando o País em uma crise marcada pela
hiperinflação. Atualmente, o cenário é outro, mas os desafios se
assemelham. Com a inflação crescendo novamente e os níveis de consumo
caindo cada vez mais, a indústria de diversos setores está tendo de
repensar modelos de produção e distribuição para otimizar suas receitas e
seguir em frente de maneira sustentável.
Foi diante de todas essas
particularidades que as principais lideranças do setor automotivo se
reuniram no último dia 18 de agosto, no Teatro Ruth Cardoso, na Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Em sua 21ª edição, o
Seminário da Reposição Automotiva abordou diversos temas de interesse do
setor e mostrou que, se o momento é de crise, é preciso cada vez mais
buscar novas soluções.
O evento é uma realização do GMA (Grupo de
Manutenção Automotiva) que integra as principais entidades
representativas do setor: Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de
Componentes para Veículos Automotores), Andap (Associação Nacional dos
Distribuidores de Autopeças), Sicap (Sindicato do Comércio Atacadista de
Peças e Acessórios para Veículos de São Paulo), Sincopeças (Sindicato
do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos no Estado de
São Paulo) e Sindirepa (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e
Acessórios). A organização fica a cargo do Grupo Photon.
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Martin Bodewig |
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Estiveram presentes ao evento os
principais executivos do setor de reposição automotiva, que, logo de
início, puderam conferir um vídeo com mensagens dos representantes das
entidades da reposição. Entre eles, Antonio Fiola, presidente do
Sindirepa-SP e Nacional; Paulo Butori, presidente do Sindipeças; Renato
Giannini, presidente da Andap/Sicap; Francisco de La Tôrre, presidente
do Sincopeças-SP e Elias Mufarej (coordenador do GMA e conselheiro do
Sindipeças para o mercado de reposição). A primeira palestra ficou a
cargo de Martin Bodewig, diretor da Roland Berger, que apresentou ao
público um diagnóstico do mercado de reposição brasileiro.
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Leandro de Paula Souza |
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Outro dos objetivos do Seminário, no
entanto, foi apresentar ao público presente o eSocial, projeto do
governo federal que tem o objetivo de unificar o envio de informações
trabalhistas e fiscais de funcionários. Em entrevista à revista Mercado
Automotivo de julho (edição 243), o advogado Hélcio Honda, diretor
jurídico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), já
havia apontado a "desburocratização" de diversos processos como uma das
principais vantagens do eSocial.
"O País carece de muitas medidas que
desburocratizem as operações dos setores produtivos. A desburocratização
desoneraria estas operações, com consequentes reflexos positivos para o
consumidor final, e permitiria mais investimentos e atuação focada na
atividade fim e nos objetivos do empreendedor nacional", afirmou Honda.
Por meio de uma palestra os
participantes do Seminário puderam entender que o sistema foi baseado na
melhoria de processos de padronização, racionalização e simplificação
no cumprimento de obrigações. Afinal, o Brasil tem urgência para não
apenas eliminar informações redundantes como aprimorar a qualidade dos
dados enviados pelas empresas.
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Heloísa Monzani |
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Padronização – Se a
ideia é aproveitar o momento de crise para explorar novos processos, o
TecDoc pode ser uma das soluções para os empresários do setor.
Trata-se de um sistema de informação com catálogo eletrônico,
desenvolvido pela multinacional TecAlliance e que chegou ao Brasil no
primeiro semestre deste ano. Presente em 129 países, com 20
representações, o TecDoc é líder no setor de informação eletrônica no
mercado de reposição da Europa, com dados padronizados de mais de 560
fabricantes de autopeças e traduzido para 28 idiomas.
Heloísa Monzani, diretora-geral da
TecAlliance, ministrou palestra sobre o tema e destacou a importância do
mercado brasileiro para a marca. "O Brasil é um mercado automotivo
muito importante e estratégico para nossos acionistas e parceiros e a
TecAlliance, como principal plataforma de informação e comunicação do
mercado automotivo, deve estar onde seus parceiros atuam", afirmou.
Monzani abordou ainda a lacuna na padronização e informação das
autopeças vendidas no Brasil atualmente. Em um país de tamanho
continental como o nosso, esse problema pode ser determinante para a
evolução do próprio setor de forma geral
"Até a chegada da TecDoc não havia uma
padronização e em muitos casos [há] dificuldades na [obtenção de]
informações das autopeças no Brasil. Nós ainda estamos construindo a
base de dados do catálogo brasileiro, ela evolui a cada mês, mas só
estará completa quando a grande maioria dos fabricantes de autopeças que
atuam no Brasil alimentar os nossos dados. Temos o apoio dos
fabricantes, o conhecimento e o padrão aceito como referência na Europa e
no mundo. Acreditamos que temos todos os elementos para, juntamente com
a indústria e o mercado, suprir esta lacuna que ainda existe na
padronização das informações em um curto espaço de tempo. Os usuários do
WEB Catalog ajudarão, com a sua pressão e demanda, para que o catálogo
esteja mais completo e seja a base para outras ferramentas, programas e
oportunidades", completa a executiva
Ao final do primeiro bloco do evento,
Edson Brasil, vice-presidente de vendas e marketing da Arteb e
conselheiro do Sindipeças, expôs suas considerações a respeito dos temas
discutidos até então
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Emerson Mello |
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Conscientização – Vale
destacar também a palestra referente ao Programa Carro 100% / Caminhão
100% / Moto 100%, que tem o objetivo de conscientizar o motorista a
respeito da importância da manutenção preventiva do veículo. A atenção a
este aspecto pode aumentar a segurança no trânsito, reduzir a emissão
de poluentes e o consumo de combustível.
A última pesquisa encomendada pelo GMA
(Grupo de Manutenção Automotiva), responsável pelo programa, mostrou
que em todos os acidentes urbanos e rodoviários registrados em São Paulo
em determinado período o fator humano foi determinante. O fator
via/meio ambiente foi determinante em 37%, enquanto o fator veículo
apareceu em 27% das situações. Cada acidente poderia combinar mais de um
fator na metodologia da pesquisa.
Os números somente reforçam a
necessidade de se investir na manutenção preventiva dos veículos. Essa
cultura precisa ser disseminada com maior intensidade em todo o País e
não somente nas grandes metrópoles.
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Antonio Fiola |
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Garantia – Além
disso, quem acompanhou o Seminário pôde presenciar um debate de alto
nível a respeito dos desafios inerentes à implantação de um sistema de
garantia para autopeças.
De forma clara, Antonio Fiola expôs
todas as problemáticas do assunto e posteriormente chamou ao palco, para
um debate, importantes atores de cada um dos elos da cadeia automotiva:
fabricante, distribuidor, varejo e reparador. Odair de Moraes Júnior,
do escritório Moraes Junior Advogados, Alfredo Bastos, da MTE-Thomson,
Antonio Carlos de Paula, da Pellegrino, Ricardo Carnevalle, da Josecar e
Eduardo de Oliveira Neves, do Centro Automotivo Nipo Brasileiro, foram
extremamente didáticos ao explicar ao público porque é difícil,
atualmente, oferecer um sistema completo de garantia para autopeças.
Ao final, verificou-se a necessidade
de ampliar as conversas, sempre envolvendo todos os atores da cadeia
automotiva de modo a diminuir os custos referentes à garantia, reduzir
possíveis prejuízos para determinada parte e priorizar sempre o bom
atendimento àquele que é o mais importante em todo esse processo: o
consumidor final.
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Carlos Alberto Júlio |
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Motivação –
Para fechar o evento com chave de ouro, o palestrante Carlos Júlio
explorou a arte da estratégia. De forma direta e leve, Júlio destacou a
importância de se definir corretamente as estratégias que devem ser
seguidas pelas empresas, tenha ela o tamanho que tiver.
"Por que você espera resultados
diferentes se faz tudo sempre igual?", questiona. "Se você espera
resultados diferentes, levar a sua companhia, seu negócio ou mesmo sua
carreira para outro nível, é preciso pensar estrategicamente", afirma.
O palestrante atraiu a atenção de todo
o público ao demonstrar que muitas empresas atualmente ainda sofrem com
problemas de identidade. Não sabem por que existem ou a que se destinam
e, dessa forma, acabam naufragando. "Desde seu primeiro dia de
atividade uma empresa deve ter clara sua identidade, sua missão e seu
projeto de futuro. E mais: precisa ter um projeto claro, uma estratégia,
para atingir seus objetivos. Isso vale para uma multinacional, para uma
padaria e até para uma entidade sem fins lucrativos", explica Carlos
Júlio
Por meio de exemplos práticos e de
maneira extremamente didática, o palestrante demonstrou que a estratégia
não é algo necessário somente nas guerras e nos esportes. A arte da
estratégia consiste justamente em permitir ao executivo ou à empresa um
controle mais apurado do presente, em um caminho que levará naturalmente
a um futuro de sucesso e sustentabilidade nos negócios.
Em sua apresentação, Carlos Júlio
destrinchou o conceito de estratégia e apresentou caminhos e detalhes
que devem ser observados para quem deseja instituir em sua empresa ou em
sua carreira um processo estratégico. Os resultados aparecem, mas a
estrutura é fundamental, inclusive para que você saiba onde está e onde
pretende (e pode) chegar. O público do Seminário, com certeza, saiu
renovado da palestra.
Diante de tantas oportunidades e
desafios vistos e apresentados no Seminário da Reposição Automotiva,
cabe a todos uma reflexão: O caminho será fácil? Com certeza não. Mesmo
os analistas mais otimistas preveem um tempo até que o cenário do País
volte a melhorar. Ainda assim, é preciso levantar a cabeça e acreditar
no potencial do País diante das dificuldades. "A crise sempre é uma
oportunidade para rever projetos, sistemas e implementar ferramentas
úteis, que em períodos de vendas altas normalmente são relegados a um
segundo plano", avalia Heloísa Monzani.
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